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Badmintom nos anos 50

( 20 de Maio de 1964 )

Em 1953 Sintrense promoveu a modalidade de Badmintom, como se pode verificar, pelo extracto de um livro escrito por Henrique Arronches, e oferecido a Henrique Pinto, no ano de 1954, com a devida vénia, transcrevo.

Adriano Filipe

 

É difícil de garantir a data exacta da introdução do Badminton em Portugal.

O melhor é transcrever o conteúdo de um livro escrito por Henrique Arronches e oferecido em 5 de Maio de 1954 a Henrique Pinto e que contém a seguinte dedicatória:
“Provando o seu apreço e admiração por uma vontade firme, desinteressadamente devotada a um bela causa desportiva, este livro é dedicado a Henrique Pinto por todo o Grupo Desportivo da Livraria Portugal, com destaque para os primeiros praticantes de Badminton: Luís Gomes da Costa, Luís Fausto de Oliveira Garrido, José Alfredo de Oliveira e Luís Filipe Ferreira Lopes”.

Não é possível localizar no tempo a introdução em Portugal do Badminton.
É sabido, no entanto, que o nosso conhecimento deste jogo era até bastante superficial e bem reduzido o número de pessoas que o praticavam.

Na verdade, haviam sido feitas, desde pelo menos três dezenas de anos, algumas tentativas para o divulgar, sobretudo como exercício de cultura física. Nunca, porém – pelo menos nada se sabe a esse respeito – se pensara no Badminton como desporto de competição.

Em 1947, Henrique Pinto, que tomara conhecimento do jogo através de documentários cinematográficos e, mais tarde, assistindo a um espectáculo no Teatro Politeama, onde se exibiam campeões de Badminton integrados numa companhia de patinadores artísticos sobre gelo, adquiriu por acaso, duas raquetas de Badminton em péssimo estado.

Mandou concertá-las, comprou volantes e começou, como ele diz, a “brincar” ao Badminton com a sua esposa.

Encantado, desde logo, com a beleza do jogo, a graça e elegância das atitudes dos jogadores, muito especialmente quando se tratava de senhoras, nunca teve dúvidas quanto ao seu valor como exercício. Sentiu, também, desde então, que o Badminton poderia vir a tornar-se um grande desporto, pois não lhe faltavam emoção e interesse espectacular.

Instalou em sua casa, na Agualva, um pequeno campo onde proporcionava à família, aos amigos e, mais do que ninguém, a si próprio, o prazer de jogarem Badminton, apesar das dificuldades resultante das instalações rudimentares.

Desde sempre teve a ideia de o divulgar, levando-o até aos clubes desportivos, onde poderia ser praticado por toda a gente, se não em competição, (o que só atletas o devem praticar) pelo menos como ginástica magnífica que é.

A sua vida profissional não lhe permitiu fazê-lo tão cedo quanto desejava.

A ocasião chegou, finalmente nos princípios de 1953. Sócio gerente da Livraria Portugal, havia constituído, com os seus empregados, desde o início da firma, em 1941, um Grupo Desportivo.

Ao aproximar-se o XII aniversário do Grupo Desportivo, Henrique Pinto conseguiu fazer interessar-se pelo Badminton alguns dos seus rapazes, dando-lhes lições e praticando com eles, na sua casa e na própria livraria, evidentemente fora das horas do serviço do público. Seleccionados os mais hábeis, Luís Gomes da Costa, Luís Garrido, José de Oliveira e Luís Lopes, iriam constituir a primeira equipa portuguesa de Badminton de que fazia parte, naturalmente, o próprio Henrique Pinto e sua esposa, D. Julieta Pinto.

Como primeira manifestação da campanha de propaganda que iam lançar, editaram um pequeno folheto, contendo as leis do Badminton, a explicação desenvolvida de algumas jogadas de pares e uma notícia sobre a origem do jogo. Foi orientador deste trabalho Henrique Pinto que seleccionou o material traduzido de publicações especializadas, francesas e inglesas por Jorge Pimenta, outro sócio do Grupo Desportivo da Livraria Portugal.

Aproveitando-se a seguir os festejos comemorativos de mais um aniversário do Grupo, foi comunicada a toda a Imprensa da especialidade a intenção de se lançar o novo desporto. Não só a Imprensa mas também a Rádio deram o seu imediato apoio.

“Mundo Desportivo”, de 1 de Maio de 1953, depois de se referir às comemorações do XII ano do G.D.L.P., dizia: “A introdução, com largueza do Badminton nos Clubes portugueses constitui, porém, a parte mais importante das comemorações. Os representantes do G.D.L.P. estão dispostos a realizar demonstrações em todos os clubes que as desejarem...”.

“A Bola”, de 2 de Maio, esclarecia: “Tratando-se de um jogo a que não falta a beleza, emoção e destreza, predicados que contribuem fortemente para a popularidade dos desportos deste género, o G.D.L.P. tomou a iniciativa de promover a sua propaganda organizando jogos de exibição...”.

Desde o início da campanha foi, porém, o “Diário Popular”, pela pena de Ricardo Ornelas, o grande defensor da causa. Em 4 de Maio, em primoroso artigo informava:

“Dentro deste princípio, o G.D.L.P. vai lançar o Badminton só conhecido entre nós como entretenimento familiar e sócios seus farão amanhã uma partida demonstração nas salas do Ateneu Comercial, pelas 21,30”. Seguia-se uma explicação pormenorizada do jogo e da sua história.

Também o “Diário de Notícias”, “O Século”, “Diário de Lisboa”, “República” e mais tarde o “Recorde”, “Norte Desportivo” e “Primeiro de Janeiro”. Por fim todos os jornais se interessaram pelos primeiros passos do jogo.

A primeira demonstração pública realizou-se exactamente a 5 de Maio de 1953, data do aniversário da Livraria Portugal e do seu Grupo Desportivo, no Ateneu Comercial de Lisboa a cuja Direcção foi entregue, pelos dirigentes do G.D.L.P., uma placa comemorativa do acontecimento.

Colaboraram na demonstração, além da equipa do G.D.L.P., António Pinto, do G.D.da Companhia de Seguros “A Nacional”, seus filhos Vasco e José Manuel, Dr. António Gentil Martins, Dr. João Martins e Dr. Alberto Silva.

Foi ainda o “Diário Popular” que em 11 de Maio fez mais pormenorizada descrição deste acontecimento.

A Rádio não ficou indiferente ao nascimento do novo desporto. A própria Emissora Nacional incluiu nos seus noticiários informações sobre os primeiros jogos efectuados para o público. Mas foi Lança Moreira que reconheceu facilmente o grande valor do Badminton, o grande propagandista do jogo através do seu conhecido programa no R.C.P.

À primeira sessão pública outras se seguiram e não só no Ateneu, mas também no Lisboa Ginásio Clube, onde a primeira sessão, efectuada em 5 de Junho do mesmo ano, causou enorme entusiasmo.

A primeira exibição fora de Lisboa teve lugar em Évora onde o Badminton era conhecido nas aulas do Prof. João G. Mariano.

Este excelente desportista convidou o G.D.L.P a fazer ali, em 31 de Maio, uma demonstração das possibilidades do Badminton como jogo de competição, a qual foi muito apreciada pela grande assistência que enchia o ginásio do Liceu local. Os atletas de Évora revelaram-se grandes jogadores, de que muito viria a falar-se, tendo empatado, logo neste primeiro encontro, com a equipa do G.D.L.P. O “Lusitano”, jornal do Lusitano Ginásio Clube referiu-se detalhadamente a esta sessão.

Sintra, a linda vila dos arredores da capital, quis também a sua sessão de propaganda e foi de tal modo entusiástico o interesse demonstrado pelos desportistas assistentes que o S. U. Sintrense, em cujo ginásio se fez a demonstração, logo abriu um curso de Badminton que ficou a cargo de Henrique Pinto e que passou a efectuar-se, regularmente, todas as semanas.

Em Lisboa, foi então a vez do Triângulo Vermelho Português, velha casa de bons desportistas, abrir as suas salas ao novo desporto. Também aqui Henrique Pinto passou a ensinar o jogo a todos os que o quisessem aprender.

O G.D.L.P., que distribuiu gratuitamente a todos os clubes interessados, exemplares das leis do Badminton, pôs à disposição de toda a gente o material necessário à prática do jogo.

A curiosidade pública despertava. Os grandes clubes começaram a interessar-se. O primeiro a manifestar-se foi o Benfica, que pretendeu e conseguiu uma exibição para os seus associados. Veio a provar que gostava, inscrevendo-se mais tarde, no I Torneio, dois dos seus conhecidos atletas. Também o Sporting viria a ter a sua sessão particular.

Finalmente, Henrique Pinto julgou chegado o momento de oficializar o Badminton e iniciou a preparação do I Torneio.

Escreveu às autoridades dirigentes do Badminton em Inglaterra a saber pormenores da respectiva organização.

Obteve pronta e amável resposta e felicitações pela ideia da criação de uma Associação Portuguesa da modalidade.

Também de França obteve aplausos do organismo directivo do jogo, que se mostrou vivamente interessado em receber rápida visita dos jogadores portugueses.

Henrique Pinto começou então a fase mais difícil da sua luta. São sempre difíceis iniciativas semelhantes e, possivelmente, não só em Portugal.

Os que por incapacidade ou preguiça nada acham possível para além da rotina das suas vidas, os que não perdoam aos outros o facto de terem ideias que são incapazes de conceber, os tímidos que temem ser ridicularizados ao fazerem um gesto diferente dos das massas vegetativas, todos e tudo pareciam empenhados em mostrar a Henrique Pinto a inutilidade do seu intento mas encontraram uma vontade tenaz e uma intenção firme que se não deixa abalar por qualquer obstáculo, uma vez lançado no caminho que escolheu.

 Esta é, de resto, uma atitude verdadeiramente desportiva, infelizmente pouco vulgar.

As primeiras dificuldades começaram com o G.D. dos seus próprios empregados que, não sendo filiados em qualquer organismo oficial não poderia organizar o torneio que se pretendia.

Recorreu ao Lisboa Ginásio, que, com verdadeiro espírito desportista, aceitou o encargo de apadrinhar o torneio. Não foi, depois fácil conseguir o concurso indispensável de bons colaboradores para a organização do torneio, seus regulamentos e fiscalização das provas, mas conseguiu-os nas pessoas dos Drs. Gentil Martins e João Martins, que provaram desde logo a sua competência.

Outra grande dificuldade era a de obtenção de ginásios para a realização dos encontros. Evidenciou-se, nessa altura, a triste realidade que é o facto de nem sequer os grandes clubes disporem de ginásios, de acordo com as necessidades mínimas para a formação de bons atletas, a quem a ginástica deve ser indispensável.

Foi mais uma vez a amabilidade das Direcções do L.G.C e do T.V.P. quem facilitou o problema, pondo à disposição dos organizadores os seus ginásios.
O número de inscritos cresceu rapidamente. Inscreveram-se nesse Torneio de Badminton quatro senhoras e trinta e cinco homens, representando os seguintes clubes: Lisboa Ginásio, Triângulo Vermelho Português, Casa dos Estudantes do Império, C.I.F., C.P. de Voleibol, Ateneu Comercial de Lisboa, Sport Lisboa e Évora, Sintrense, Benfica e Sporting Club de Oeiras.

A sessão inaugural teve lugar a 3 de Setembro do mesmo ano de 1953, no L.G.C. e a ela assistiram representantes da Imprensa e dos inscritos: o inspector dos Desportos, Ayala Botto, Lança Moreira, pelo Rádio Clube Português e Ricardo Ornellas, pelo Diário Popular. O público também correspondeu à expectativa.

O torneio decorreu com entusiasmo crescente. Os jornais noticiavam dia a dia os resultados e os respectivos correspondentes, que se iam deixando prender pelo excelente desporto, adquiriam mais conhecimento da técnica do Badminton, de que beneficiaram as suas notícias.

Foram vencedores deste I Torneio, os representantes da Casa dos Estudantes do Império, que triunfaram em todas as categorias: Singulares Senhoras, a que correspondeu a Taça Julieta Pinto; Singulares Homens, cujo prémio foi a taça G.D.L.P; Pares-Homens, a que coube a Taça L.G.C. e Pares-Mistos, que recebeu a Taça Diário Popular.

Os jogadores de Évora deram excelente réplica e impuseram a sua magnífica categoria.

Aníbal Rebelo foi o grande campeão do Torneio. A sua invulgar classe, já revelada nas várias sessões de propaganda onde se tornava indispensável, teve plena confirmação com a magnífica série de encontros que disputou.
Na sessão de encerramento, onde além das personalidades presentes à inauguração estiveram ainda o Sr. General Ramos de Miranda, do L.G.C. e o Sr. Tenente-coronel Ribeiro da Silva, da Mocidade Portuguesa e o Sr. Inspector Ayala Botto que discursou, pôs em destaque a excelente organização do torneio, coisa infelizmente rara nos meios desportivos, sobretudo quando se trata de estreias, pelo que felicitava H.P. pela dupla vitória do Badminton e do seu I Torneio.

Outros oradores foram unânimes em reconhecer o triunfo do novo desporto, a que auguraram brilhante futuro e, como desportistas, agradeceram ao introdutor do jogo e seu entusiasta propagandista o grande sucesso a que assistiram, que marcou mais uma etapa vencida na grande causa desportiva em que todos, ali presentes, se empenhavam.

Era tempo, enfim de pensar a sério na organização oficial do jogo. Como acontece em França, pensou H.P. em entregar o Badminton na Federação Portuguesa de Lawn-Tennis.

Desde a organização do I Torneio, esta Federação prometeu estudar o assunto, prontificando-se, entretanto, a aceitar a responsabilidade, perante a D.G. dos Desportos, no que respeita à possibilidade de sanções a aplicar no caso de desrespeito aos regulamentos do I Torneio.

O assunto porém arrastava-se sem resolução, o que contrariava sobremaneira os desejos de H.P., que não queria que se perdesse, naturalmente, o interesse conseguido com tanto esforço à volta do Badminton.

Não desperdiçou, portanto, uma única oportunidade de apressar o desfecho da questão, conseguindo atrair a atenção dos delegados dos grandes clubes a Federação de Lawn-Tennis, para a causa do desporto que tanto o apaixonava.
A conclusão a que se chegou não foi a que H.P. esperava mas, pelo menos poderia, desde então, pensar livremente em solucionar de outro modo a questão do Badminton.

Por aquele lado não havia mais tempo a perder. H.P. estava pronto para agir de novo.

Em nome do G.D.L.P., enviou aos clubes, bem como aos jornais e a Lança Moreira, para o R.C.P., com pedido de publicação e divulgação, uma “circular” datada de 19 de Fevereiro de 1954.

Nessa comunicação o G.D.L.P. desligava-se dos destinos do Badminton, que a partir de breve tempo ia ter vida própria. Convidava, assim, todos os clubes com interesse no jogo, a enviar os seus delegados à primeira reunião destinada a estabelecer as bases da criação do organismo dirigente do Badminton, que iria chamar-se Federação Portuguesa de Badminton, e nomear a respectiva Comissão Organizadora.

A referida reunião foi marcada para o dia 10 de Março e, como tudo o que H.P. determinava, realizou-se na data prevista.

Da reunião efectuada com vista à formação da F.P.Badminton, saiu, como se pretendia, a respectiva Comissão Organizadora, assim constituída:

Fernando Pesca e Benjamim Naia, pelo T.V.P. João Santana dos Santos, Herculano de Carvalho e Henrique Pinto, pelo L.G.C. René Perlico, pelo C. Académico de Portugal; Alcides de Oliveira, pelo Sporting C. Oeiras; Dr. Gentil Martins, pelo C.I.F. e Dr. Nicolau de Oliveira, pelo C.E.I..

Esta Comissão iniciou, imediatamente, os seus trabalhos, que prosseguem, ainda, no momento em que escrevemos, e que, certamente, terão o desfecho previsto e tão desejado por H.P.

Enquanto prosseguem os trabalhos da Comissão Organizadora da F.P.B., quatro dos seus membros, que formam a Comissão Técnica, Dr. Gentil Martins, Benjamim Naia, Herculano de Carvalho e Henrique Pinto estabeleceram os regulamentos de um II Torneio, organizado pelo T.V.P.. Divulgado este, logo surgiram inscrições. O Torneio, iniciado em 10 de Abril, está a disputar-se ainda em Maio, com interesse crescente.

Inscreveram-se nove senhoras e cinquenta e cinco homens, em representação dos seguintes clubes: Triângulo, L.G.C., C.E.I., C.I.F., Sintrense, Sporting, “Os Belenenses”, Lusitano de Évora, Sporting C. Oeiras e C. Académico de Portugal.

Novos nomes, que são novos valores para o novo desporto, definitivamente aceite, têm sido revelados no decorrer dos encontros.

Pode dizer-se, sem receio de errar, que o Badminton venceu e com ele H.P.

Particularmente, o animador e introdutor do jogo não perde a oportunidade de conquistar para o Badminton novos adeptos, levando-o a toda a parte onde existiam bons desportistas.

Apesar de muito ocupado, não de fala já na sua vida profissional, mas pelos seus cargos nas Comissões a que aludimos, e ainda como jogador do Torneio agora em disputa, H.P. deslocou-se, em 27 de Abril, às Caldas da Rainha, onde, com Aníbal Rebelo e, como sempre, com sua companheira, no desporto como na vida, Julieta Pinto, realizou uma animada sessão integrada nas Bodas de Prata Desportivas do Dr. Calheiros Viegas, outro valoroso desportista.

Termina-se, aqui, este esboço de história, com o desejo de que muito em breve não haja em Portugal, cidade, vila ou aldeia onde o Badminton não seja praticado e, naturalmente, apreciado. Só então H.P. dará por terminada a sua obra.

 

Lisboa, Maio de 1954

Henrique Arronches

 

 

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